quarta-feira, 19 de março de 2014

Hoje eu Chorei

Hoje eu chorei. De raiva, e muita. Entrei na sala de aula toda orgulhosa por ter feito o teste de inglês e ser selecionada para a turma do Upper Intermediate, mas quando o professor começou a misturar todas as conjugações do passado ao mesmo tempo (past simple, past continuous, past perfect simple e past perfect continuous) comecei até a esquecer o que era a conjugação mais básica e travei. Errei todos os exercícios passados em sala. Quanto mais ele falava mais confusa a minha mente ficava e de repente parecia que ele tinha mudado de língua e estava falando Tailandês! Simplesmente meu cérebro deu PT.

A única coisa que passava pela minha mente era sair correndo, chorando e gritando bem alto por toda a Sydney e arrancar os fios de cabelo que restam nesta careca. E o mínimo que consegui fazer para conter todo esse impulso animal que nem sabia de onde estava vindo foi abaixar a cabeça e deixar uma lágrima escorrer pelo meu rosto e cair sobre o livro.

Esta lágrima foi o símbolo do quão difícil poderia ser esta experiência aqui na Australia e que a onda estava só levantando a crista.

A lágrima me mostrou o quanto sou frágil apesar dos 35 anos na cara e não conseguir controlar um sentimento de raiva.

A lágrima me lembrou quantas vezes já chorei por não compreender o que estava sendo explicado numa aula de flauta, harmonia, matemática ou outra qualquer.

Mostrou o quanto estou suscetível ao sentimento de me sentir impotente, pois lá no âmago da minha alma corrupta, eu quero a potência de viver o ideal que não existe, a perfeição divina almejada inclusive pelo mais terrível dos seres.

Mostrou que aqui em Manly não são tudo flores e cores, mas que terei que enfrentar dificuldades como qualquer outra pessoa e não é porque eu tenha esperança que tudo dará certo que realmente as coisas darão certo, pois eu realmente não tenho como prever o meu futuro.

Mostrou que muita gente ao meu redor pode estar passando por algum momento muito pior e precisando de um ombro amigo.

Mostrou que apesar de eu não ter o domínio sobre as coisas e saber que um Ser maior rege todo o universo, eu possa ser negligente e cruzar os meus braços esperando o milagre cair do céu. E que talvez eu tenha que parar de tirar foto no Ferry e estudar nos 30 minutos de ida e vinda para a City, pois isso poderá me ajudar a transformar o Tailandês no Inglês.

Mostrou que preciso depender mais deste Ser superior que tudo vê, pois só Ele irá me acalmar e trazer o conforto que minha alma precisa. Mostrou que uma lágrima é apenas uma lágrima e não se compara com aquele mar imenso que atravesso todos os dias.

Mostrou que o mesmo Deus que acalmou a tempestade enquanto Jesus estava no barco com seus discípulos, é o Deus que enxugará esta pequena gota e dirá para eu mergulhar nesta grande onda dizendo “Vai que estou aqui pertinho”.