O
trabalho estava ao meu lado no vôo para a Australia mas não pude enxergar.
Cheguei
aqui num domingo a noite e no outro dia de manhã já estava na agencia de
turismo perguntando como poderia fazer para encontrar um trabalho, quais eram
as opções e o que se adequava melhor ao meu perfil (aqui estou falando
de trabalho físico normalmente realizados por estrangeiros, como cleanner,
waitress, counterhands, barista, kitchen hand, driver, nanny).
Para
cada trabalho existe alguma certificação e como eu tinha focado em waitress e
nanny, fiz os cursos de RSA e First Aid na primeira semana.
Mas
o trabalho que Deus me deu já no terceiro dia através de uma indicação foi o de
removal, ou seja, empacotar caixas para mudança e carregá-las até a garagem.
Também estavam inclusos no trabalho lavar o carro, caixas, mesa e cadeira que
estava no jardim. Posso dizer que foi uma bela sessão de ginástica com direito
a agachamento, bíceps, tríceps e afins e voltei para a casa pingando. Mas o que
eu não contava é que já de cara, na primeira semana, ganhei um monte de coisas
que estava precisando comprar e outras que inclusive tinha acabado de dar no
Brasil, panela, roupa de cama, louça, além de terra, potes para plantar. Foi tanta coisa que precisei de carona para a casa e ajuda para carregar a nova mudança!
Nas
duas semanas que havia chegado, conversei com muita gente para entender o
mercado de trabalho, as experiências de cada um e ouvir conselhos. Fiz flyer, currículos
de nanny e waitress, além de uns contatos com o Brasil para intermediar
agências de publicidade aqui em Sydney. Enviei meu cv para algumas vagas, me
cadastrei em sites de emprego, participei de
workshop de nanny, brinquei com crianças
na rua e depois falei para os pais que estava a disposição para cuidar do filho
delas, me ofereci para trabalhar um dia de graça para ter experiência, pedi
trabalho para todo mundo que conhecia na Australia, li jornal, incluí meu email
em newsletter de vagas. Teve um cara que me ligou e eu não consegui falar nada
ao telefone - ele disse que não era hábil para a posição pois precisava do inglês.
Acho que praticamente todos os dias devo ter feito algum movimento para encontrar
uma forma de me manter na Aussie, como o povo fala.
E
eu tinha esquecido que o trabalho estava ao meu lado no vôo para a Australia...
A
segunda semana estava terminando e lembrei do senhor que sentou ao ao meu lado
no avião. Ele estava com sua esposa e me perguntou várias coisas, como por
exemplo, o que tinha feito eu vir para a Australia, porque eu escolhi a
Australia, porque Sydney, onde iria morar, porque escolhi Manly, o que eu fazia
no Brasil, quais tipos de clientes eu atendia, qual a minha rotina de trabalho,
etc. Meu sentimento era que eu estava sendo entrevistada por mim! As
perguntas não sessavam nunca! Mas por
outro lado eu estava treinando o meu inglês e a imersão com a língua tinha
acabado de começar ali dentro do avião. Quando pousamos, ele deixou seu cartão
e pediu para eu ligar na segunda semana e conversar sobre trabalho. E eu
havia esquecido! Estava pensando em trabalhos que exigem grande força física
quando Deus tinha separado outra coisa que pela minha mente limitada ou pela
baixa auto-estima de chegar num lugar desconhecido e não entender o sotaque tinha me sucumbido. E de
repente eu havia perdido o foco do que eu sabia fazer, pois afinal de contas,
quem iria me contratar se nem no telefone eu conseguia falar!
Bem,
apenas para “ticar” mais um item da minha lista de “find a job”, liguei para o
senhor que pediu para eu ir em seu escritório. Depois da aula de inglês compareci mas ele não estava lá. Voltei com raiva para a City pois queria
participar de um workshop que ensinava a carregar pratos para a vaga de
waitress. No caminho ele me ligou e falou para encontrar ele na City. Ainda
pensei: “-caramba, fui até lá para falar com ele e justamente agora que irá começar o workshop ele quer falar comigo? Que perda de tempo!” Enfim... eu fui falar com ele.
O
senhor fez mais um tantão de perguntas e para a minha grande surpresa, ele pediu
para que eu começasse no outro dia a trabalhar com ele na área de marketing, em
um período de experiência.
Quando
saí da entrevista eram 4 horas da tarde em Sydney e 3 horas da manhã no Brasil
(14 horas de diferença)! Eu queria ligar para todo mundo do Brasil para contar
esta felicidade mas todos estavam dormindo!!! Nesta hora o fuso pesa e não
posso falar com quem eu quero na hora que eu quero! Preciso me programar para falar com a família e
amigos e alguém precisa abnegar para ficar até tarde ou acordar de madrugada. Passei
a tarde com isso entalado e fui na agencia para contar para alguém, pois eu
mesma não estava acreditando!
Estou
feliz mas confesso que também estou um com medo danado ao mesmo tempo de não
ser capaz de realizar alguma tarefa por conta da língua. Mas o medo é algo que
me move e faz ser dependente de Deus.
Posso
dizer com todas as letras que não fui responsável por sentar ao lado do diretor da
empresa e de ele estar precisando de alguém na área de marketing e em 2 semanas já ter encontrado um trabalho na área.. O trabalho
não só bateu a minha porta como caiu do céu enquanto estava no avião. Não é um
mérito meu e sim do Pai que tem olhado por mim desde o dia que nasci. E o que Ele dá é perfeito e sempre muito mais do que imaginamos ou merecemos.
Então,
não fui eu que consegui o trabalho na Australia, mas Deus, o pai amoroso que a
todos atende, providenciou em meu lugar.