Hoje eu chorei. De raiva, e muita. Entrei na sala de aula toda orgulhosa por ter feito o teste de
inglês e ser selecionada para a turma do Upper Intermediate, mas quando o
professor começou a misturar todas as conjugações do passado ao mesmo tempo (past
simple, past continuous, past perfect simple e past perfect continuous) comecei
até a esquecer o que era a conjugação mais básica e travei. Errei todos os
exercícios passados em sala. Quanto mais ele falava mais confusa a minha mente
ficava e de repente parecia que ele tinha mudado de língua e estava falando
Tailandês! Simplesmente meu cérebro deu PT.
A única coisa que passava pela minha mente era sair
correndo, chorando e gritando bem alto por toda a Sydney e arrancar os fios de
cabelo que restam nesta careca. E o mínimo que consegui fazer para conter todo
esse impulso animal que nem sabia de onde estava vindo foi abaixar a cabeça e
deixar uma lágrima escorrer pelo meu rosto e cair sobre o livro.
Esta lágrima foi o símbolo do quão difícil poderia ser esta experiência
aqui na Australia e que a onda estava só levantando a crista.
A lágrima me mostrou o quanto sou frágil apesar dos 35 anos
na cara e não conseguir controlar um sentimento de raiva.
A lágrima me lembrou quantas vezes já chorei por não
compreender o que estava sendo explicado numa aula de flauta, harmonia, matemática
ou outra qualquer.
Mostrou o quanto estou suscetível ao sentimento de me sentir
impotente, pois lá no âmago da minha alma corrupta, eu quero a potência de viver
o ideal que não existe, a perfeição divina almejada inclusive pelo mais
terrível dos seres.
Mostrou que aqui em Manly não são tudo flores e cores, mas que terei que enfrentar dificuldades como qualquer
outra pessoa e não é porque eu tenha esperança que tudo dará certo que
realmente as coisas darão certo, pois eu realmente não tenho como prever o meu
futuro.
Mostrou que muita gente ao meu redor pode estar passando por algum momento muito pior e precisando de um ombro amigo.
Mostrou que muita gente ao meu redor pode estar passando por algum momento muito pior e precisando de um ombro amigo.
Mostrou que apesar de eu não ter o domínio sobre as coisas e
saber que um Ser maior rege todo o universo, eu possa ser negligente e cruzar
os meus braços esperando o milagre cair do céu. E que talvez eu tenha que parar
de tirar foto no Ferry e estudar nos 30 minutos de ida e vinda para a City,
pois isso poderá me ajudar a transformar o Tailandês no Inglês.
Mostrou que preciso depender mais deste Ser superior que
tudo vê, pois só Ele irá me acalmar e trazer o conforto que minha alma precisa.
Mostrou que uma lágrima é apenas uma lágrima e não se compara com aquele mar
imenso que atravesso todos os dias.
Mostrou que o mesmo Deus que acalmou a tempestade enquanto
Jesus estava no barco com seus discípulos, é o Deus que enxugará esta pequena gota
e dirá para eu mergulhar nesta grande onda dizendo “Vai que estou aqui pertinho”.