Por
causa de nossas conexões brasileiras, quando cheguei em Sydney fui morar em uma
casa com mais outras 5 brasileiras em Manly em um quarto que era quase
privativo. Tudo era incrível: a casa limpa e organizada, o quarto enorme, uma
flatroom divertidíssima, a localização, a praia, o ferry, etc, mas o tempo foi
passando e comecei a me incomodar pela quantidade de tempo perdido em trânsito e por não falar inglês como gostaria,
e o incrível lugar dos sonhos me conectava diariamente com a cultura do meu país que não era a razão de
eu estar aqui na Australia, por certo. Algo precisava ser feito urgentemente.
Após
4 meses busquei um apartamento no coração de Sydney com 7 estrangeiras, sendo
cada uma de uma parte do mundo: França, Inglaterra, Taiwan, Japão, Korea, China
e Burma (minha ignorância é tão grande que nem sabia o que era Burma – para quem
também não conhece, Burma é um país localizado abaixo da China, #ficadica ;).
Além
da multiculturalidade da casa, a localização não poderia ser melhor. Moro a 15
minutos a pé da vida. Vida entende-se todos os lugares que costumo frequentar
durante a minha semana em Sydney, então novamente estou tendo um tempo que
estava perdido em algum canto do meu pequeno paraíso em Manly.
Entretanto todos os ganhos tem as suas perdas. Além das outras 7 meninas, estou dividindo
o apartamento com outras trocentas baratas que não pagam aluguel. Meu primeiro desafio é como irei administrar um lugar extremamente sujo sem dar a impressão
que sou a housekeeper do momento e causar grandes confrontos culturais
porque pelo jeito a única pessoa que está incomodada aqui sou eu.
O
apego também continua sendo algo que me incomoda um bocado. Todas as 7 meninas
conseguem viver com uma mochila e a brasileira tem uma vida inteira para
carregar nas costas com muito mais do que 4 malas, necessitando de praticamente uma mansão. Sinto-me envergonhada com a
quantidade de coisas que trouxe para cá e que coletei neste curto espaço
de 4 meses. Vim do Brasil com 2 malas até a tampa e tripliquei a quantidade neste ridículo período. Não tinha como não perceber as meninas
chocadas com as bolsas e malas que chegavam e todas perguntando por
que eu tinha tantas coisas. Que vergonha que deu de minha pessoa, meu Deus do
céu. E novamente comecei o processo de
desapego que é a parte que quero morrer, doando roupas, sapatos,
edredons, roupa de cama para as meninas fazendo "a boa ação para mim" e diminuir a imagem negativa
que tinha acabado de causar.
Bem... nunca
em minha vida imaginei sair do meu conforto e viver onde estou vivendo, mas não
trocaria por nada esta experiência que estou começando esta semana. É aqui neste apartamento que escolhi viver as próximas mudanças em minha vida, onde não incluem
apenas o foco no inglês, mas o confronto com os meus defeitos, imersão em
diversas culturas, paciência, flexibilidade, desapego e tolerância. Se eu vou
conseguir ainda não sei, mas novamente estou disposta a tentar.
E que morram as baratas.
E que morram as baratas.